26.2.21

Uma das Possíveis Cartas Para Mim



 Se eu tivesse a coragem de escrever uma carta a mim mesma, eu acho que teria tanta coisa para dizer que o próprio papel seria tão fino que não chegaria para a força da caneta. Inicialmente e calmamente, daria inicio com um "Querida Zayla,..." e umas quantas frases balelas para ganhar a minha confiança pois tenho 100% de certeza que, se não fosse assim, pegaria na carta e a deitaria fora num instante. Há coisas internas que evitamos estudar, ler ao pormenor. Depois dos "Espero que esteja tudo bem contigo..." e uma conversa de treta sobre o tempo e o espaço, passaria ao que realmente interessa e rezaria para ler até ao fim. 
Diria para ser eu própria neste ano novo que estamos. Pedia-me que parasse de sofrer com o que um dia sofri, para parar de abrir feridas na minha alma só porque um dia ela sangrou, que já chega deste destino trágico a que me agarro sempre, que parasse de me render ao mau que a vida me dá e agarrasse mais vezes o bom. Diria também a mim mesma que hoje entendo que não soube estancar a ferida e muitas vezes a deixei aberta por opção própria, escolhi sofrer por uma dor em certas partes evitável. Diria-me que a luz que tenho em mim, tenta sair lentamente pelas fendas criadas no meu coração partido e que, só porque eu não a vejo, não significa que não exista. Que tem dias em que a luz é calorosa como um abraço apertado de um amigo e há dias em que se torna tão pequena que só me resta manter a calma na escuridão e acreditar que vai passar. Diria-me que tenho átomos dentro de mim alinhados para fazer de mim uma coisa bela, e que, como as estrelas, uma constelação feita de mim seria magnifica. E quem sabe, as estrelas não sejam minhas? Que não há ninguém como eu, mas que isso não me faz melhor do que ninguém. Que saí defeituosa em muitos aspetos e tão aperfeiçoada noutros. Diria para não me preocupar com atitudes alheias ao meu redor, que o que os outros fazem é sobre eles, nunca foi sobre mim. Depois talvez tivesse coragem para me pedir para sair dos ambientes negativos e dramáticos, para me puxar para cima onde consigo ver a tona da água porque ultimamente ando a nadar no fundo do oceano. Diria para acreditar mais em mim e na minha inutilidade, porque até quando sou inútil, o mundo ganha em me ter. Sou parte deste universo e tenho que confiar que a natureza sabe o que está a fazer. Porque um dia deitei-me na estrada à frente da minha casa de férias e junto do alcatrão que emanava uma sensação quente, ao ver as ondas de calor do verão e a ouvir as ondas do mar que naquele dia, não estavam revoltadas, juro que senti conexão com algo maior, maior do que eu e do que todos nós. Diria para acreditar nisto, acreditar que sou parte deste universo e que ele nunca se esquece de mim. Depois diria a mim mesma para amar muito porque enquanto escritora, ou pessoa que escreve, tudo o que eu amo se torna eterno, porque um dia tudo irá e estas palavras ficarão para quem as quiser ler, e sobre quem ou o que eu escrever, não faltarão páginas e portanto, talvez diria a mim mesma que é uma sorte amar sendo poeta e é uma sorte ser amado por um poeta (se é que me posso intitular disso).  Por fim acabaria com "Sempre tua, Zayla" porque houve dias em que só soube ser dos outros, perdi-me de mim. Este ano gostaria de ser sempre minha, com todos os defeitos e qualidades que uma alma pode ter. E a minha... bem, é linda.

Para quem me lê, que se algum momento acharem que esta carta pode ser vossa, será. Porque a escrita é bonita o suficiente para ser de todos. Voltem aqui, sempre que precisarem.

5.9.20


Estaria a mentir se te dissesse que sou de ferro, que em todas as tuas batalhas me podes usar como escudo. Estaria a mentir se dissesse que isto de que sou feita não se parte, não se molde, não se muda. Que aguentaria mil e uma guerras só por serem tuas. Estaria a mentir se dissesse que não preciso de um beijo, um abraço ou mesmo de colo e tudo isto em doses grandes. Estaria a mentir se te dissesse que o excesso é suficiente e que se um dia foi de menos, hoje é de mais. Estaria a mentir-te se dissesse que isto do amor não dá voltas e voltas e acaba no mesmo sítio, naquele onde nos encontrámos pela primeira vez dispostos a amar cada pedaço nosso desencontrado do seu sítio original. E estaria a mentir-te se dissesse que não tenho medo. Meu amor, neste momento medo é tudo o que sou e ainda que pequena, fez-se grande.


Confiei-me cegamente a ti e parti, partiste-me. E apesar de ser amor, ou eu achar que foi, duvidei. 
E se algum dia me jurassem que isto ia acontecer, eu chamava-os de loucos. Eu conhecia-te, melhor do que ninguém, melhor que tu próprio e ai de alguém que insinuasse algo impossível de ser verdade. No entanto, dei por mim numa situação completamente desconhecida e acima de tudo, inesperada. Estaria a mentir se te dissesse que naquele momento não quis desistir. Se quis... naquele momento salvar o que restava de mim era a prioridade perante todo o caos que nos rodeava mesmo que isso implicasse deixar tudo o que fomos para trás, nos teus braços para nunca te esqueceres. Naquele momento eu não queria saber de palavras ou gestos ou sequer da minha dor ou raiva, estava completamente vidrada naquele abalo, naquele choque. E ainda assim, estaria a mentir-te se dissesse que o meu amor por ti não foi tão grande ou maior do que o meu por mim. Que se voltasse atrás, não iria perdoar tudo novamente só para te ter nos meus braços de novo.

Perante isto, o meu coração está ao rubro e a minha cabeça um caos. Dói-me pensar na possibilidade de não te ter e muitas vezes chega a doer, ter-te. Mas no fundo eu sei que há amor e é esse amor que nos faz lutar todos os dias um pelo outro mesmo existindo também lágrimas e outras tantas coisas. Mas estaria a mentir-te se dissesse que já confio em ti. Não confio. E perguntas-me como fiquei? Porque acredito no teu amor. Neste caso arrisco-me a dizer que uma coisa não tem nada a ver com a outra. 


Acabo a dizer-te que estaria a mentir se te dissesse que parte de mim já não é tua por tudo o que passámos. Eu esperava que sim, eu desejei que sim. Já não somos o que éramos meu amor, mas seremos sempre nós.
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